22.8.05

Soneto




Para Águas Claras

Clareza alguma vejo em tuas águas
Vertidas sobre as ruas de um canteiro
Mais claras são de tristes minhas mágoas
Lembram-me o estio em fins de fevereiro

Águas Claras, te desnudo entanto
Pois que jamais de ti seria gestante
Cega, maldita em poeira, asfalto e espanto
A ladrilhar-te em vis falsos brilhantes.

Não vejo a Lua entre teus edifícios
O sol se enconde às sombras colossais
Câmeras, grades, teus portões, meus gritos,
Dão-me a certeza de que a vida é mais.

Eu tenho pernas, Águas Claras, duas
Eu sou maldita, artista, poeta e flor
Eu sou pequena e quero estar na terra

Pretensa és tu que elevas, perpetuas
Concretas férreas ruas sem amor
Na humanidade que esta vida encerra.