24.6.08

Lágrimas da Cor

Hoje abri as janelas, rasguei os croquis
Não conheço alma nem sonho em branco e preto.
Abrir a porta foi um gesto banhado em lágrimas
As cores choram por minha vida,
um choro gritante, dolorido,
um medo vivo da morte.
Perpasso o vão que existe na dor
antes que alguém enfie os dedos nela
sem pagar o preço da entrada.
Eu pago, atravesso, cicatrizo
e contemplo a estética.
As paletas me valem muito,
pois pintura é o gesto que aconteceu
do útero ao coração,
antes de chegar ao cérebro
e escravizar-se.
Pintei três olhos, apenas
e faço visita aos mistérios femininos:
Mulheres têm três orifícios,
com quatro eu faria dois homens
e perguntaria ao plexo, perplexo
onde mora a luz do sol.
Ícone dos meus olhos,
tu me contemplas na minha timidez
e me concedes o direito
de chorar e ser pintura
ao mesmo tempo.