11.11.08

Perfeição

Flores à ilusão estrangeira
do mestre em minhas mãos
Flores à morte das paredes,
que a pintura me atravessa
e me morde como um cão sem dono.
Flores à vida do homem que pinta
(e dos olhos de quem vê)

Entre um silêncio e outro, desconfio
(mas confio)
que a imperfeição é perfeita.

24.6.08

Lágrimas da Cor

Hoje abri as janelas, rasguei os croquis
Não conheço alma nem sonho em branco e preto.
Abrir a porta foi um gesto banhado em lágrimas
As cores choram por minha vida,
um choro gritante, dolorido,
um medo vivo da morte.
Perpasso o vão que existe na dor
antes que alguém enfie os dedos nela
sem pagar o preço da entrada.
Eu pago, atravesso, cicatrizo
e contemplo a estética.
As paletas me valem muito,
pois pintura é o gesto que aconteceu
do útero ao coração,
antes de chegar ao cérebro
e escravizar-se.
Pintei três olhos, apenas
e faço visita aos mistérios femininos:
Mulheres têm três orifícios,
com quatro eu faria dois homens
e perguntaria ao plexo, perplexo
onde mora a luz do sol.
Ícone dos meus olhos,
tu me contemplas na minha timidez
e me concedes o direito
de chorar e ser pintura
ao mesmo tempo.

28.5.08

Lunar

Pérola preciosa, boa noite.
Hoje meus olhos doem. Pernas, pulso, seios de abacate imaturo,
tangerina ácida entre os dentes.
Abaixe o volume da música! Hoje estou assim.
Humanamente assim. Anote isso.
Silêncio profundo e sangue... Preguiça.
O mês corre.
O ventre escorre.
Mas olhe para o céu:
A Lua e eu somos cúmplices do mesmo ritmo compassado - e sem futuro.
A verdade não tem futuro.
A verdade é que agora, exatamente agora, preparo os lençóis vermelhos
E, mulher sem culpa,
Vou dormir num quarto minguante.