7.11.05

Para quem odeia gatos



Ode ao Gato
(Artur da Távola)

Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso.

Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.

O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.

Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor?

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer.

Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.

Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso , quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que ele não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.

O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!

Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo ( quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, o qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.

Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.

4 comments:

Anonymous said...

muito lindo este texto, dá até gosto de ter um gatinho, ou melhor, uma gatinha, a nossa bubuuu!

Juli said...

Viajou no gato, risos. Eu curtia gato(a)qdo criança, aí fui morar em apto. criei só peixe e tartaruga, qdo morava em casa cuidava dos bichos no quintal, naum tinha essa frescura de levar no veterinário, de ensinar a fazer cocô ou xixi e era legal demais, meu irmão tb gosta mto de bicho, mas minha mãe detesta, o último q tiveram o cachorro era fofo demais, uma vez viajaram e o cão levou a chinela da minha mãe até mim e queria pq queria lamber minha cara, naum deixei de jeito nenhum, acho nojento beijar bicho, ou deixá-lo lamber na cara da gente, eu sou super alérgica, mas se naum fosse e morasse numa casa, tinha gato, cachorro, peixe, pintinho, tartaruga, etc, etc, etc. Uma vez apareceu um gato perdido no meu bloco, ele era tão manso q veio p/ meu lado, deitou no meu colo, se acomodou e dormiu, eu deixei, mó folgado o gato, mas tão lindo o jeito dele, de gato eu gosto do dengo, do rabo passando nas pernas das pessoas, naum gosto de jeito nenhum qdo fica querendo comida, ou qdo é mal educado, tb detesto qdo eles arranham ou agridem a gente, do miado tb gosto, qto mais pequenininho for, melhor!
Bjos,
Juliana

P.S. Criei o meu último blog: http://juliana76df.blig.ig.com.br , passe lá p/ ver e comentar, ok?? Vc sumiu do seu blog, mulher!!!

Juli said...

Me responda, pelo menos se tá viva ou naum, criatura.
Bjos,
Juliana

Anonymous said...

Oi...
Tbm amo gatos tenho 4 fêmeas castradas e muito lindas a cada dia aprendo mais com elas...antes de termos essas 4 tivemos "pity" uma gatinha muito linda e educadissima... era uma companheira de toda hora passava o dia todo onde eu estivesse, mais por vontade de Deus ela hj não esta mais entre nós... era a coisa mais linda respondia atudo como se fosse gente... bastava chama -la qd ela saia q la vinha toda contente... e qd saiamos ela ficava esperando na porta e fazia aquela festa... ela foi muito especial não que as 4 q tenho hj não sejam mais ela era diferente... hj tenho um pouquinho dela em cada uma das que tenho ...
bem desculpe a invasão mais te achei no blog da Pra Sandra
Bjos e até mais.... Se quiser da uma passadinha nos meus flogs
www.flogao.com.br/julicps
www.flogao.com.br/nossosbichos